INSTRUMENTOS DE URDIR PAISAGENS
– UM TEMPO, UM ESPAÇO E UM OLHAR
A presente exposição é o resultado de uma viagem paisagista pela cidade de Viana, tendo assumido, nesse ínterim, o
raso registo do “óbvio”, do chaníssimo “banal” e do “aparente real” que todos os dias vemos e revemos.
Como preocupação maior aceitei, com alguma inquietação e desassossego, as paisagens de Viana, tanto diurnas como
noturnas, como o referente real do que cessa e deixa de existir quando o enunciamos e, objetivamente, o produzimos
quando o revelamos. A fotografia não é – digamo-lo sem tergiversações retóricas e esteticamente enganosas – um
espelho do factível ou das realidades reproduzíveis.
Assim ou dito de outro modo, tal como o refere Philipe Dubois, criei o meu real fotográfico retirando -o do contexto
e, por essa via, transformando-o num Acto e num registo pessoal e individualizado. E porque a fotografia também é
conceito, ao isolar a parte do todo, constituo de forma consciente e formalmente coerente a imagem que realizo como
autor.
E, é também por essa prática, por essa atitude, que ao criar novas imagens, as liberto da imagem-mãe, do referente.A incapacidade da repetição do olhar, a violência do movimento perpétuo e irrepetível e o enjambement de porme-
nores e detalhes mínimos para constituir a totalidade do olhar, reduziram o meu discurso expositivo a dois momentosdistendidos, primeiro, à primordialidade da água ofertada pelo Lima e pelo insofrível Atlântico e, em segundo lugar, ao
irredutível movimento da luz e das nuvens. A minha visão agrega, embora saiba ou pressinta que o infinito do universo
e do mundo é inabarcável, um Tempo, um Espaço e um Olhar.Mas eu sei, tal como refere o meu amigo e crítico catalão S. Zunzunnegui, que la fotografia no reside en ser um meca-
nismo apto para reproducir la realidade, sino en su capacidade de producir imágenes icónicas.Todavia, nestes momentos fugazes e únicos, pela encenação que cada paisagem me ofereceu, pela ausência e pelo
contexto mutável dos elementos, esta exposição organiza e propõe uma das minhas visões desprendidas, às vezes um
pouco míticas, sobre Viana. Manifestamente é, assim desejem os deuses, o registo presencial do Eu como autor.
Viana do Castelo, 12 de Outubro de 2020
José Pastor