A pandemia impulsionou a procura de música relaxante, evocativa de outros lugares, de uma nostalgia adormecida com uma vontade tremenda de construir um desejo acerca de um tempo, um outro tempo. Esse outro tempo é um local imaginário, um onde idealizamos estar, com cores queimadas, memórias desfocadas e o conforto que já existe uma banda-sonora para ele: as peças de Mary Lattimore. Ao longo da última década e picos, a música da harpista norte-americana (residente em Los Angeles) tem feito o seu caminho, seja nos álbuns a solo ou em colaborações que fizeram sobressair o talento para levar o ouvinte a sítios que jamais imaginou estar. Regressar a ela é uma partida para a descoberta do novo-impossível que está tantas vezes distante do quotidiano.
A música de Lattimore é construída na incerteza do que é real ou imaginário. Em muitos casos, na base de locais que Lattimore visitou, experienciou e dos quais obteve sensações que resolveu transferir para o instrumento de eleição. Como acontece no último registo, “Goodbye, Hotel Arkada”. Compôs música a partir da experiência num hotel na Croácia, onde imaginou como teriam sido os anos de ouro – se alguma vez existiram, a tal nostalgia pelo que não vivemos – de um local tantas vezes habitado por estranhos em passagem. Lattimore resolveu tornar a transmissão dessa experiência colaborativa e trabalhou com Meg Baird, Ben Chasny, Roy Montgomery, Rachel Goswell e Samara Lubelski para tornar “Goodbye, Hotel Arkada” numa experiência multidimensional. A sua harpa mistura-se com vozes e outras cordas na tal procura de concretização de um lugar que nunca existiu, mas que passa a existir a partir do momento em que a harpista o imagina e o elabora em som, com todos os detalhes, perfeições e imperfeições. A Mary Lattimore visitou a ZDB algumas vezes nos últimos anos, por isso estamos à-vontade para dizer que é um prazer ir a esses sítios com ela, cada vez mais, à medida que acumula experiências, desejos e as motivações divergem. O onírico da sua música é cada vez mais real. AS
Adriana João (1998) vive e trabalha em Lisboa.
Iniciou os seus estudos musicais em 2005 no Conservatório de Portimão Joly Braga Santos, onde estudou violino até 2013. Frequentou a Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, onde se licenciou em Arte Multimédia – Performance / Instalação, e se pós-graduou tanto em Arte Sonora como em Arte Multimédia – Imagem em Movimento.
O seu trabalho transdisciplinar e intuitivo mescla-se entre o som, a imagem em movimento, a performance, a escultura, a fotografia e a instalação.
Emerge de subtis coincidências presentes no perpétuo vínculo imaterial entre tudo o que existe, que pairam por entre perfeitos e imperfeitos ciclos entrelaçados, e padrões que derivam das tangentes comuns.
Tem exposto, tocado e feito residências artísticas regularmente em Portugal e no estrangeiro, com destaque para Cité Internationale des Arts à Montmartre (Paris), Galeria Zé dos Bois (Lisboa), Jardim da Galeria Quadrum – Galerias Municipais de Lisboa (Lisboa), Mayhem (Copenhaga), Frappant Gallery (Hamburgo), Alfaia (Loulé), Cosmos (Lisboa), NyMusikk / Particular Universal (Magerøya), Jardins Efémeros (Viseu), Zaratan (Lisboa), EGEU (Lisboa), Teatro Ibérico (Lisboa), Passos Manuel (Porto), Galeria Espírito Santo (Loulé), Casa do Capitão (Lisboa), Hub Creativo do Beato / Confeitaria – Sonár Lisboa (Lisboa), Lisa (Lisboa), Cossoul (Lisboa), Galeria Novo Século (Lisboa), Teatro da Garagem (Lisboa), Culturgest (Lisboa), Haapsalu kultuurikeskus (Haapsalu), Museu de Lisboa / Palácio Pimenta – Lisboa Soa (Lisboa).
É co-fundadora da rádio TEIA, e tem vindo a colaborar com diferentes artistas, curadores e músicos, tais como Róisín Berkeley, Polido, David Revés, Pedreira, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Gabriel Siams, Rebeca Letras, João Reis, Guilherme Vilhena, Violeta Azevedo, Pedro Tavares, Seán Being, Inês Malheiro, Vicente Mateus, CADA, Van Ayres, Marina Rei, Francisca Portugal.
Fonte: https://zedosbois.org/programa/mary-lattimore-adriana-joao/
