Rodrigo Vaiapraia partiu das gravações lo-fi no seu quarto em direcção a um destino com várias paragens. Se com uma gravação em fita e take directo com as Rainhas do Baile, editou o seu primeiro álbum “1755” (2016) com sabor a garage rock e expurgo queecore, então em “100% Carisma” (2020) abraçou a pop com Adriano Cintra e Luís Severo, praticando a emancipação pós-punk com a potência da sua banda. Mas os rótulos são só um papel que se cola à testa, e Vaiapraia é e já foi muitas coisas - seja a solo, em trio, com banda ou numa multiplicidade de colaborações com pessoas e colectivos, tais como Cão Solteiro, Filipe Sambado, Lora Logic, Michelle Blades, Plataforma285, Tomás Paula Marques e Van Ayres. Trata-se de um projecto de amor, onde o processo social acompanha o criativo, e onde cabem fãs, artistas, amigues e transeuntes desta vida, num universo em que se ensaia uma comunidade, onde cada qual brilha à sua maneira. Começando 2023 com o EP “Estrelas e Trovões”, continua a escrever novos temas e a tocar ao vivo pontualmente pelo Reino Unido, terra onde vive. Nas quatro canções gravadas de lareira acesa com Júlia Reis, na sua casa na aldeia de Vilar Seco, há simplicidade e escuridão e muitas, muitas perguntas. É possível que tenhamos as respostas num próximo álbum. Por agora, teremos o desvendar de mais uma camada da sua matrioska num novo formato de concerto. O espectáculo, que quase desde início se alicerçou em banda, será agora a consagração da sua ausência. Para isso, juntará ao material antigo o novo repertório, numa sonoridade onde a dramaturgia, o baixo acústico, o teclado e alguns elementos electrónicos unirão as pontas do véu, deixando a descoberto mais uma derme, tão profunda como as anteriores. Música e teatro, visões e narrativas, e sempre a voz: cantada, gritada, falada e repetida. A paixão, o riso, a dor, o olhar atento e a crítica social continuam borbulhantes e sempre em busca de um palco. Vaiapraia está pronto para o galgar.
Fonte: https://www.jazzaocentroclube.pt/agenda/vaiapraia