"Navega mais devagar"
É um verso do poema “Nuvens correndo num rio”, de Natália Correia. No ano em que se comemora o centenário do nascimento da poeta e ativista, nascida nos Açores em 1923, e em que celebramos transversalmente a sua obra noutros eixos da programação, também é das suas palavras que partimos para parar. No Rádio Faneca deste ano, desaceleramos. O festival mantém os projetos com a comunidade, com o regresso do Casa Aberta, orientado por Francisca Camelo, em que as pessoas abrem as suas casas para oferecer uma performance artística e um jantar a convidados que desconhecem; a rádio que funciona, em FM, online e ao vivo, durante o festival, com discos pedidos, concertos e programas especiais; os concertos nos becos e nos palcos do Jardim Henriqueta Maia, com nomes da música nacional e local; as Histórias nos Becos, criadas para o festival por Ana Madureira; e outras novidades e propostas que preenchem os três dias, de manhã à noite, do festival, que acontece no Centro Histórico de Ílhavo. Na décima edição, o Festival Rádio Faneca continua a percorrer o caminho, lento e fascinante, de conhecer o outro.
Gratuito . . . . ALINHAMENTO (em atualização)
16 JUNHO (sexta-feira)
Todo o dia 10:00 - 20:00 Emissão Rádio com Maria Inês Santos e Marta Rocha 10:00 - 20:00 Jogos do Helder - Praça Casa Cultura Ílhavo 10:00 - 20:00 Oficina do brincar - Jardim Henriqueta Maia Histórias nos becos por Ana Madureira - horário a definir
10:30 + 12:00 + 13:30 Masaje de la Visión por Idoia Zabaleta - Casa Cultura Ílhavo 15:00 Soundcheck por Teatro Didascália 16:30 + 18:00 Masaje de la Visión por Idoia Zabaleta - Casa Cultura Ílhavo 19:00 Concerto O Marta - Palco Rádio 21:30 Concerto Tó Trips - Palco Carlos Paião 22:30 Concerto Glockenwise - Palco Jardim 00:00 Helena (dj set) - Palco Carlos Paião
Chá das 5 - Peça para quatro amigas mais uma que nunca mais chega por Companhia Coração nas Mãos - horário a definir
17 JUNHO (sábado)
Todo o dia 10:00 - 20:00 Emissão Rádio com Maria Inês Santos e Marta Rocha 10:00 - 20:00 Jogos do Helder - Praça Casa Cultura Ílhavo 10:00 - 20:00 Oficina do brincar - Jardim Henriqueta Maia Histórias nos becos por Ana Madureira - horário a definir
10:30 + 12:00 + 13:30 Masaje de la Visión por Idoia Zabaleta - Casa Cultura Ílhavo 15:00 Soundcheck por Teatro Didascália 15:00 Concerto PRAIA: Cláudio da Paula + Paula Cirino - Becos Centro Histórico 16:30 + 18:00 Masaje de la Visión por Idoia Zabaleta - Casa Cultura Ílhavo 17:00 Concerto Jasmim - Becos Centro Histórico 18:00 Chá das 5 - Peça para quatro amigas mais uma que nunca mais chega por Companhia Coração nas Mãos 18:00 Concerto PRAIA: Henrique Vilão + Satha Lovek - Becos Centro Histórico 19:00 Casa Aberta com Francisca Camelo - Jantar/performance 19:00 Concerto Ana Lua Caiano - Palco Rádio 21:30 Concerto Zé Ibarra - Palco Carlos Paião 22:30 Concerto B Fachada - Palco Jardim 00:00 João André Oliveira (dj set) - Palco Carlos Paião
18 JUNHO (domingo)
Todo o dia 10:00 - 20:00 Emissão Rádio com Maria Inês Santos e Marta Rocha 10:00 - 20:00 Jogos do Helder - Praça Casa Cultura Ílhavo 10:00 - 20:00 Oficina do brincar - Jardim Henriqueta Maia Histórias nos becos por Ana Madureira - horário a definir
10:30 + 12:00 + 13:30 Masaje de la Visión por Idoia Zabaleta - Casa Cultura Ílhavo 15:00 Concerto PRAIA: António Justiça + Rui Pereira - Becos Centro Histórico 16:30 + 18:00 Masaje de la Visión por Idoia Zabaleta - Casa Cultura Ílhavo 17:00 Concerto Filipe Sambado - Becos Centro Histórico 18:00 Concerto PRAIA: Equinócio e Wine on the Carpet - Becos Centro Histórico 19:00 Concerto Pedro Branco toca Marco Paulo - Palco Rádio 21:30 Concerto Luca Argel - Palco Carlos Paião 22:30 Concerto Orquestra de Jazz de Matosinhos & Manuela Azevedo - Palco Jardim
Chamada Coro da Madrugada com a Comunidade - horário a definir . . . . MANIFESTO- EDIÇÃO 2023
A culpa talvez seja da rotina.
Não é uma questão de monotonia, ou desinteresse, muito menos de apatia. Mas da rotina como força contrária à deambulação, à contemplação e à leveza necessárias para ficarmos absolutamente especados a olhar uns para os outros e para o que está à nossa volta como se fosse tudo novo. Porque é também das coisas admiráveis - repetidas ou irrepetíveis - que há no decorrer de si própria que a rotina nos dispensa. Quando apanhamos os pedaços de uma desgraça do chão é que entendemos: que bem que se está num dia normal. Só nos destroços afiados da ausência ou do medo somos capazes de reconhecer os sinais da continuidade e da beleza das coisas. A ressonância insuportável de uma casa desabitada, por exemplo. A memória é uma sentença ensurdecedora e, simultaneamente, um portal para a luz que permanece. Uma árvore que continua a dar as mesmas pêras, doces ainda. A esperança é para comer à dentada.
Esta é uma nota de repúdio ao piloto automático. A engenharia dirá que esse mecanismo permite uma «navegação mais precisa e económica», mas de mecânica percebem os poetas. No poema “Nuvens correndo num rio”, Natália Correia diz-nos que não corramos e pede, quase ordena: “navega mais devagar”.
A culpa talvez seja da falta de orientação. O mapa de uma cidade não é uma representação real de todos os seus caminhos. Diz-nos por onde devemos circular, mas não onde podemos parar. Este esboço das ruas é útil, mas viver é mapear o resto. Experimentar uma cidade é abrandar. Identificar o rasto dos que a habitam, a sua memorabilia afetiva, questionar o planeamento urbano, assinalar os trajetos mais lentos e demorados, fazer os desvios mais difíceis e considerar as pausas. Inventar um lugar em aberto - a rua é um documento por rasgar - à procura de ser desarrumado pela passagem, repetida ou ocasional, das pessoas.
Na décima edição, o Rádio Faneca não olha para o mapa. Durante três dias, no Centro Histórico de Ílhavo, ninguém se perde: em qualquer ponto do festival, já chegámos ao nosso destino.