“O número de mulheres espancadas, ofendidas e violadas é impressionante. As diversas formas de maus-tratos que muitas mulheres sofrem são uma cobardia e uma degradação para toda a humanidade. Os testemunhos das vítimas que se atrevem a quebrar o silêncio são um grito de socorro que não podemos ignorar. Não podemos olhar para o outro lado.” - Jorge Bergoglio, enquanto Papa Francisco
Portugal 2022. As mulheres continuam a ser maltratadas e demasiadas vezes mortas. Vítimas daqueles que vivem a seu lado, esses cobardes disfarçados de homens que lhes parasitam a existência. Urge não calar a voz destas mulheres que vivem lado a lado com o medo, com a dor e não sobrevivem ao silêncio de todos os que ouvem os seus gritos e não denunciam o seu causador.
Todos somos cúmplices se continuarmos a olhar para o lado.
Conheçamos Eva, não a primeira mulher, mas uma de tantas que vive na sombra, um passo atrás, que observa e escuta, que nunca diz, apenas responde.
Eva que acorda cedo para que todos possam estar mais tempo na cama. Que se senta por último à mesa e que serve todos os pratos antes do seu. Eva que nunca come a perna do frango, que nunca segura o comando da televisão, que nunca decide como passar o domingo. Eva que nasceu sem choro até levar a palmada, a primeira. Eva que se habituou à cara quente depois do tabefe e que sufoca o grito numa almofada.
Pela primeira, vez Eva fala sem que lhe peçam. Conta-nos a sua vida transformada em estória, uma daquelas vidas que a História gosta de esquecer, mas que é forçoso lembrar.
Rosa Villa será Eva. Durante 70 minutos podemos assistir à estória de Eva, contada pela própria. Sentemo-nos, observemos e escutemos em silêncio como ela viveu a vida toda, Muda.
Texto e Encenação: João Ascenso Interpretação: Rosa Villa Uma produção: Buzico! Produções