Tiago Sousa + Joana de Sá
Colaboração em estreia absoluta, a convite do Rescaldo, entre Tiago Sousa (um dos mais brilhantes alumni do burgo, pianista e compositor avesso aos academismos e dono de um percurso longo e continuadamente arrebatador) e Joana de Sá, cintilante revelação do ano transacto, que com o disco “Shatter”, lançado no seu início, conjurou, a partir de loops de guitarra e sintetizador, uma beatífica e potente homenagem às canções que lhe iam colorindo os dias – nada que se pareça com versões ou remixes, mas uma espécie de materialização dos fantasmas que tantas vezes nos acompanham na música que escutamos, e ao que de nós acrescentamos e subtraímos a cada uma no próprio acto de ouvir. É talvez a repetição o grande ponto de encontro entre estes mundos: aos loops que Joana utiliza como base e motor para a quietude e transcendência, a organicidade da nova fase do Tiago (patente nas suas recentes “Organic Music Tapes”, nas quais os órgãos eléctricos se vão progressivamente imiscuindo num mundo piano-acústico) vai traduzindo, crescentemente, uma voz que afirma menos e mostra mais – de quem é, do que lhe corre no espírito, do que de si é parte de uma universalidade que nos foi revelada por Riley ou por Reich ou todos os alquimistas que encontraram na beleza de uma frase simples a progressão para o encontro interior com o enigma do cosmos. Que importa a diferença de percursos e gerações quando todos fitamos a mesma linha de infinito?
Tiago Sousa – orgão, electrónicas / Joana de Sá – guitarra, eletrónicas
Algorave by Not Binary Code (Quendera . Ndr0n . Violeta)
O Not Binary Code é um coletivo de colheita 2022 que navega na contemporaneidade absoluta, irredutível e ainda envolta em mistério de termos e práticas como o live coding, o algorave e as várias dimensões de aparência futurística das tecnologias audiovisuais; o seu é um mundo de música “estranha” a partir de “código escrito à pressa, bits e memórias”, e que talvez pudéssemos descrever, tentativamente, como uma projecção antecipatória, individual e coletiva, de uma Inteligência Artificial popular e eminentemente benevolente. Neste showcase do coletivo, cujo leque de preocupações abrange também questões de identidade, diversidade e criação de espaços seguros e garantias de abertura e transparência enquanto alternativa aos excessos da propriedade, da patentização e da monetização, contamos com a presença de Ndr0n (projeto audiovisual de expressão digital de Afonso Proença, que faz da experiência em primeira mão da atual movida londrina veículo para um híbrido entre a síntese modular e o live coding), Quendera (ambient algorítmico pontuado por caos percussivo herdado de uma educação na comunidade punk lisboeta) e Violeta (brasileira radicada em Lisboa envolvida na confluência da arte multimédia, música e computorização, criadora de peças na liminaridade entre a galeria de arte e o armazém-ruína.
Ndr0n + Quendera + Violeta – electrónicas, imagem
Entrada : 5 euros