Museu Nogueira da Silva
Museu Nogueira da Silva/Galeria da Universidade - Av. Central, 61 - Braga Ver website
Exposição de Ana Monteiro O Mito de Sísifo “Quero que tudo me seja explicado, ou então coisa nenhuma (…) O absurdo nasce deste confronto entre o chamamento humano e o irrazoável silêncio do mundo.” Albert Camus Lembro-me de ter escrito, há muitos anos atrás, que “o problema está em não se saber quase nada…mas saber-se, ainda assim, alguma coisa.” Ao longo dos anos fui reencontrando esse mesmo pensamento, uma e outra vez, tecido pelas mãos de outros (a citação que encima este pequeno texto é disso mesmo exemplo.) Palavras novas, diversas cores: sempre a mesma inquietação. Qual angústia, transversal e suprema, que nos chegasse a todos, sorrateira, nas horas de sossego onde a calma e o tédio se entrelaçam. Parados, no meio da névoa cerrada, temos como único farol o entendimento da vastidão de tudo a quanto somos cegos (e a suspeita de sermos certamente a substância de alguma piada cósmica). Inventamos a vida ao nosso redor, tentando sempre esconder, no avesso das horas, esse pavor que aprendemos a tornar em desconforto. E ocupamo-nos dos teatros, das ficções, dos simulacros. Urdimos narrativas intrincadas, a transbordar de tudo e nada…e seguimos adiante fingindo que não nos morde o não saber onde vai dar o caminho. Sequer que caminho é. Ou quantos passos estão por dar. O conjunto de pinturas que aqui trago, é carregado de símbolos que nos colocam diante de histórias onde essa inquietação é cantada com notas que suportamos ouvir. Tornada objecto estético. E talvez nesse disfarce, através da doçura da forma pintada, nos seja possível contemplar a pele bizarra do absurdo… e a carne tingida da nossa identidade. Estrangeiros de tudo. Lúcidos e cegos. Perdidos, ufanos, e nus… tentando, maravilhosamente, compreender.
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